Produção de conhecimento no diálogo universidade-escola: textos reunidos
APRESENTAÇÃO
Nossos livros testemunharão contra nós ou a nosso favor, nossos livros refletem quem somos e quem fomos, nossos livros têm nosso quinhão de páginas do Livro da Vida. Seremos julgados pelos livros que dizemos nossos (MANGUEL, 2006).
A epígrafe do texto de Alberto Manguel, retirada de “A biblioteca à noite” (Companhia das Letras, 2006), nos parece muito sugestiva para apresentar esse livro.
Embora o autor se refira aos livros que o leitor lê, às suas escolhas pessoais, aos “livros que dizemos nossos” e que refletem “quem somos e quem fomos” como leitores, a nós parece que esse argumento pode ser aplicado à experiência de quem escreve.
Quem somos e o que escrevemos/testemunhamos neste livro?
Somos professoras do ensino superior e formadoras de professores interessadas na produção de conhecimento na e com a escola básica. Somos pesquisadoras e intérpretes do cotidiano escolar em diálogo com os colegas professores da escola. Testemunhamos, ao longo dos artigos, uma experiência de parceria universidade-escola em que conhecimentos sobre a formação de professores no contexto do trabalho docente coletivo, a complexidade da organização do trabalho pedagógico e a centralidade das práticas de leitura e escrita foram sistematizados, vínculos de amizade e respeito foram construídos e a confiança na escola pública, laica e comprometida com uma educação humana e ética foi fortalecida.
Desenvolvemos três projetos de pesquisa[1] financiados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq na Escola Estadual Professor Hélio Nehring entre 2011 e 2015 e, posteriormente, retornamos inúmeras vezes para dialogar com a equipe gestora e com os professores nas aulas de trabalho pedagógico coletivo (ATPC).
A E. E. Professor Hélio Nehring, localizada no bairro São Jorge, em Piracicaba/SP, tem como diretora, desde 2004, a professora Maria Regina Addad Ramiro, que nos acolheu na escola como pesquisadoras em 2011.
A professora Regina tem um desassossego e um olhar inquieto para a escola. Está sempre pronta para rever encaminhamentos, lidar com as contradições, dialogar com o grupo de alunos e professores, ouvir interlocutores externos. Esse olhar inquieto que nos envolve e é cúmplice da perspectiva de Paulo Freire, para quem “o mundo não é, o mundo está sendo”, sustenta as relações de colaboração entre os professores da escola e da universidade e a permanente disponibilidade para provocar questionamentos e ser questionada.
Foi essa postura, recentemente provocada pela leitura do texto “Lições de quarentena: limites e possibilidades da atuação docente em época de isolamento social”[2], que mobilizou o desejo de ampliar reflexões com as autoras Luciana Haddad Ferreira e Andreza Barbosa, que prontamente aceitaram o convite para participar da ATPC.
Nossa participação na ATPC online do dia 18/07/2020 para acompanhar a discussão foi mais uma grata experiência de formação compartilhada e uma oportunidade privilegiada de confirmar, mais uma vez, que os encontros de trabalho coletivo na escola não se rendem ao fatalismo, ao conformismo e ao comodismo, retomando Paulo Freire.
O grupo de professores, mesmo considerando as dificuldades políticas, econômicas, sociais e educacionais brasileiras, agravadas pela pandemia da COVID-19, mantém o sentimento de indignação contra as desigualdades sociais e injustiças que afetam os estudantes das escolas públicas e faz desse sentimento uma mola propulsora para questionar o currículo, as práticas educativas, o trabalho coletivo e sua própria formação a partir de ideais democráticos para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Acompanhando a interação entre os 30 professores presentes no encontro é que nos demos conta do que pudemos aprender, refletir, problematizar e teorizar desde 2011, quando nos aproximamos da escola.
A ideia deste livro nasce desse encontro e do desejo de reunir parte da produção acadêmica produzida ao longo desse percurso. O inventário inicial da produção, considerando trabalhos apresentados e publicados em anais de eventos, artigos em periódicos científicos e capítulos de livros, alguns elaborados em coautoria com os profissionais da escola, mais as iniciações científicas, dissertações e teses, apontou mais de 40 registros.
Reunimos aqui alguns desses textos com pequenas alterações a fim de formatar e padronizar alguns elementos textuais. A seleção dos textos procurou articular as perspectivas teórico-metodológicas assumidas no percurso das pesquisas com a diversidade de questões que emergiram da formação de professores no contexto do trabalho docente coletivo e do ensino da leitura e da escrita a fim de propiciar discussões sobre os modos de (re)elaboração dos conhecimentos e práticas pelos professores e pesquisadores.
Esse material documenta e, portanto, testemunha o que aprendemos com os professores da E. E. Professor Hélio Nehring. Embora grande parte desses textos já publicados tenha circulado na escola, reunir alguns deles na forma de livro é parte de nosso compromisso de valorizar a escola pública e seus professores, bem como reafirmar a importância da produção de conhecimento em parceria. Esse livro é parte de “nosso quinhão de páginas do Livro da Vida”.
Esperamos que a direção, os professores e os demais profissionais da escola possam se reconhecer nas páginas desse livro e, mais que isso, que possam reconhecer a potência do trabalho que realizam não só para a produção do conhecimento sobre a escola, mas, principalmente, para a construção de uma escola pública comprometida com a aprendizagem de seus estudantes.
Ano de lançamento | 2020 |
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ISBN | 978-65-87645-75-9 |
ISBN [e-book] | 978-65-87645-76-6 |
Número de páginas | 259 |
Organização | Cláudia Beatriz de Castro Nascimento Ometto, Renata Cristina Oliveira Barrichelo Cunha |
Formato |