Línguas, ensino e formação: experiências e aprendizagens da pandemia

Organização: Elisangela Redel, Franciele Maria Martiny, Isis Ribeiro Berger

PREFÁCIO

Cláudio Menezes[1]
UNB Cátedra Unesco em Políticas Linguísticas para o Multilinguismo

A convergência tecnológica, por meio da digitalização de som, imagem e vídeo, o avanço das telecomunicações, através da interligação de redes globais, e a instauração da comunicação sem fio conduziram a uma mudança radical no paradigma da comunicação mundial.

Em seus diversos livros e, em particular, na trilogia seminal “A Era da Informação”, Manuel Castells analisa com profundidade esse fenômeno e suas múltiplas implicações em todas as esferas da atividade humana. Segundo esse reconhecido autor, que é acompanhado por muitos outros estudiosos do tema, vivemos em uma sociedade em rede, mediada pelas tecnologias de informação e comunicação.

O debate sobre essas transformações constitui fonte inesgotável no campo acadêmico e tem conduzido a múltiplas discussões conceituais sobre tais fenômenos.

Por força de seus mandatos, a UNESCO (Organização da Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e outras organizações do Sistema das Nações Unidas têm participado e atuado intensamente no debate sobre a construção dessa sociedade em rede, particularmente na implementação das recomendações da Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação, realizada em duas etapas em 2003 (Genebra) e 2005 (Tunis).

Em consonância com seu programa de trabalho e com as recomendações da Cúpula, a UNESCO desenvolveu um modelo inclusivo para a implementação dessa sociedade imersa no novo paradigma e a denominou de “Sociedades do Conhecimento”, contemplando as múltiplas áreas de uso das novas tecnologias de informação e comunicação e no qual se inserem os distintos aspectos do multilinguismo, particularmente no mundo digital. Esse modelo busca, de uma forma holística, conceituar o que denomina de sociedades do conhecimento e se inspira em dois princípios fundamentais.

O primeiro desses princípios, pluralismo e inclusão, se orienta para contemplar uma importante percentagem da população mundial que ainda não faz parte desse novo ambiente da sociedade do conhecimento.

O segundo princípio, talvez mais fundamental nos estudos da UNESCO, recomenda que as sociedades do conhecimento devem se basear nas necessidades humanas e nos direitos humanos.

A partir desses princípios basilares, esse modelo se decompõe em quatro componentes: a) Criação de Conhecimento; b) Preservação de Conhecimento; c) Disseminação de Conhecimento e d) Uso de Conhecimento. Como se pode facilmente inferir, o multilinguismo se integra de forma transversal e fundamental na implementação de cada um desses componentes das sociedades do conhecimento, por ser evidente que a criação, a preservação, a disseminação e o uso do conhecimento se realizam através das distintas línguas em uso e até mesmo de línguas que já não tenham falantes vivos (e. g. o latim).

Vale ainda realçar que, dentre as inúmeras denominações para essa nova sociedade em rede registradas na literatura científica, talvez seja mais apropriado chamá-la “sociedades de conhecimentos” (ambos no plural), tendo em vista a diversidade de conhecimentos hoje mediada pelas tecnologias de informação e comunicação (TICs), bem como a possibilidade de compartilhamento de dados, informações e conhecimentos através das múltiplas funcionalidades tecnológicas oferecidas pelas TICs.

Antes da convergência tecnológica já citada, a educação à distância estava circunscrita à comunicação por meio do intercâmbio pelo correio de material educativo entre estudantes e seus instrutores. A sociedade em rede tornou viável o acesso aos conhecimentos de formas extremamente ramificadas e descentralizadas, uma vez que os ambientes educacionais e seus conteúdos podem ser utilizados de qualquer local do planeta por meio dos recursos tecnológicos da sociedade em rede. Como testemunhamos a todo momento, novas formas de comunicação de conhecimentos fazem parte do nosso dia a dia (comunicação em massa via SMS, blogs, vlogs, podcasts, wikis e similares). Além disso, um novo processo de organização de dados, informações e conhecimentos passou a ser imperativa e gradualmente adotado. O surgimento de repositórios institucionais, bibliotecas digitais, plataformas virtuais de vídeos educacionais e culturais são exemplos de novos recursos à disposição para o ensino à distância.

Paralela à educação à distância, a educação aberta também assume papel de relevância nas discussões. Questões tais como a configuração dos ambientes, práticas e recursos educacionais assim como o necessário equilíbrio entre os direitos autorais e as necessidades da educação figuram entre as inúmeras polêmicas para melhor instruir políticas públicas educacionais mais abrangentes e democráticas. Na educação superior, por exemplo, já não são recentes as iniciativas de criação de universidades abertas. The Open University – UK (OU-UK), fundada em 1969 no Reino Unido, a Indira Ghandi National Open University – IGNOU, fundada em 1985 na Índia e a Indonesia Universitas Terbuka Open University, fundada em 1984 na Indonésia, são alguns exemplos.

[…]

[1] Coordenador do Programa da UNESCO sobre Multilinguismo no Ciberespaço (2004-2007). Coordenador da Cátedra UNESCO sobre Políticas Linguísticas para o Multilinguismo na Universidade de Brasília. Coordenador da linha de pesquisa “Línguas em contato na web”, do Grupo de Pesquisa MOBILANG, credenciado junto ao CNPq. Professor Associado da UnB (Departamento de Línguas e Tradução, IL/LET).

Ano de lançamento

2022

Número de páginas

277

ISBN [e-book]

978-65-5869-909-5

Organização

Elisangela Redel, Franciele Maria Martiny, Isis Ribeiro Berger

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