Ágora: fundamentos epistemológicos e pesquisas avançadas em educação. Volume 4
PREFÁCIO
Como um mosaico, o saber que em nós habita é formado por uma composição de formas, cores, modos, sentidos, sabores e dissabores que se agregam, combinam, contrastam, reiteram de modo a compor uma peculiar e, portanto, bela arte. A nossa formação pessoal, profissional, científica e acadêmica é, senão a interlocução com os nossos pares. Ao viver e conviver, ao experienciar, ao dialogar conosco mesmo, com um autor, pesquisador ou com uma obra, como esta que prefacio, estamos todos agregando formas ao nosso ‘mosaico-saber’ este, paradoxalmente, em construção contínua, embora que seja, deveras, uma ‘arte completa’ em qualquer de seus ínfimos recortes.
Prefaciar uma obra é um trabalho complexo, demanda responsabilidade e para torná-lo factível busco trazer um pouco das formas que este texto me oportunizaram agregar ao meu mosaico.
Apresso-me desejando que você, caro interlocutor, permita-se experienciar o dialogar freireano com a coletânea de textos que aqui encontra. Que o texto signifique e ressignifique mediatizado pelo seu belo e inacabado mosaico que está agora ‘mais completo’ que outrora, porém menos do que estará logo ali, na próxima encruzilhada dos caminhos formativos que você tem trilhado.
E continuo, a presente obra transpira, e deveras, a práxis freiriana. Oportuno pelo fato de ser o presente ano o seu centenário, embora, mais ainda, por representar a luta que primeiro travou Paulo Freire, a de todos nós educadores e educadoras, pesquisadores e pesquisadoras, em especial nesse período em que nos apercebemos em cenário político caótico no qual a ‘cartilha dos retrocessos estatais urge à pretensa de nos ditar o bê-á-bá’.
Ademais, oportuno a interlocução com esse texto, à medida que experienciamos de modo profundo a epistemologia freireana, a práxis que, advoga o autor, instaura-se na palavra + reflexão + ação (FREIRE,1987). Nesse sentido, encontramos aqui textos que ora nos permitem um profundo refletir sobre a palavra, isto é, os aspectos teóricos e epistemológicos, outrora nos permitem desbravar os caminhos da prática de pesquisas em educação e, a todo momento, nos indicam um possível trilhar, o vislumbrar da nossa prática como educadoras e educadores, o que recupera a própria essência da obra de Freire, a indissociabilidade entre a pesquisa e a prática.
E nesse particular viés contributivo, a coletânea Ágora: Fundamentos Epistemológicos e Pesquisas Avançadas em Educação, em seu quarto volume, nos convida a refletir sobre aspectos basilares da educação, como por exemplo a pedagogia na perspectiva kantiana (capítulo 10) e também sobre uma coleção de outros tão complexos quanto urgentes fatores em voga na educação brasileira, dentre eles, o postular caminhos alternativos para o abandono da educação bancária e enciclopédica em detrimento a educação crítica, ativa e emancipatória, enfoque de diversos textos que discutem diferentes áreas do conhecimento, como o ensino e aprendizagem de filosofia (capítulos 2, 3, 5 e 7), a literatura (Capítulo 9) e a educação matemática (Capítulo 6).
Temática latente na coletânea (Capítulos 1 e 11) é o pensar a educação e sua indissociação com os aspectos sociais, sua relação com o capital e com a sociedade capitalista, com o trabalho e com o estado, este, liberal. Neste viés, se faz importante pensar as práticas de pesquisa na educação (e as práticas docentes também, uma vez que, indissolúveis) e as relações fundantes que as constituem, sob risco de, não o fazendo, protelar uma sociologia espontânea ou, dito em outras palavras, dar créditos ao senso comum e a ideologia meritocrática (BOURDIEU; CHAMBOREDON; PASSERON, 2010; BOURDIEU, 2017).
E nesta esteira de compreender o entorno que envolve a educação e compõe o rol da complexificação de aspectos está a desigualdade social, em particular no que tange ao digital, sobremaneira neste tempo pandêmico em que fosso das desigualdades se aprofunda, conforme convida-nos a refletir o Capítulo 4. Ainda neste âmbito, o Capítulo 8 lança olhar sobre o urgente tema da inclusão na Educação Básica à luz das análises das diretrizes norteadoras, documentos reguladores e, ainda, a partir das percepções e experiências em contexto das salas de aulas.
Se o leitor me permite, findo citando Freire (2020) ao indicar que o sucesso do nosso trabalho enquanto profissionais da educação remete ao buscar encurtar ao máximo a distância entre o nosso falar e o nosso agir (teoria e ação em uníssono, isto é, a práxis!). Proponho que o interlocutor dialogue com o texto tendo em mente tal premissa e que, assim como eu, possas encontrar aqui algumas formas para o seu peculiar, belo, porém inacabado mosaico.
Siqueira Campos, julho de 2021.
Dr. Danilo Augusto Ferreira de Jesuz
Instituto Federal do Paraná – Campus Jaguariaíva
Referências
BOURDIEU, P. A escola conservadora: as desigualdades frente à escola e à cultura. In: NOGUEIRA, M. A.; CATANI, A. (orgs.). Escritos da Educação. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 2017, p. 43-72.
BOURDIEU, P.; CHAMBOREDON, J.C.; PASSERON, J.C. Ofício de sociólogo: metodologia da pesquisa na sociologia. Tradução de Guilherme João de Freitas Teixeira. 7 ed. Petrópolis: Vozes, 2010.
FREIRE, P. Pedagogia dos sonhos possíveis. Ana Maria Araújo Freire (org.) 3 ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2020.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
FREIRE, P. A educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967.
Ano de lançamento | 2021 |
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ISBN | 978-65-5869-400-7 |
ISBN [e-book] | 978-65-5869-401-4 |
Número de páginas | 251 |
Organização | Ana Lúcia Pereira, Edimar Brígido, Fábio Antonio Gabriel |
Formato |