Ginástica rítmica no Espírito Santo: uma história contada pelos seus precursores

Autoria: Franciny dos Santos Dias

APRESENTAÇÃO

O ano de 2019 ficou marcado pela excelente atuação da ginasta Natália Gaudio, ao conquistar a medalha de bronze no individual geral nos Jogos Pan-Americanos de Lima. Essa foi a terceira participação da ginasta nesse importante evento esportivo. Ela atuou nas edições de 2011, 2015 e na edição supracitada. Entretanto, em 2019, foi uma conquista histórica para a atleta de 26 anos, que enfatiza emocionada o ocorrido:

Meu nome agora está marcado na história. Isso é muito importante. O que o atleta mais quer é deixar um legado. Estou construindo isso aos poucos. Esse é meu terceiro Pan e, em nenhum momento, desisti dessa medalha, que era um sonho na minha carreira. Não estou nem acreditando. Estou muito feliz por esse feito. É importante persistir sempre — disse Natália (RODRIGUES, 2019).

Todavia, nos últimos anos, a trajetória de sucesso da atleta tem sido recorrente, visto que, em 2018, ela marcou a história da Ginástica Rítmica (GR) brasileira. Ao som da música Oriental Dream, a ginasta capixaba Natália Gaudio colocou o Brasil entre os países que alcançaram uma final em Copa do Mundo. Foi na cidade de Portimão, em Portugal, que a atleta encantou o público e a arbitragem no aparelho fita, sinalizando que a GR brasileira continua a percorrer com sucesso o seu espaço entre as potências da modalidade. Segundo a treinadora da ginasta, Monika Queiroz: “Este é um momento em que o Brasil se sente honrado. Depois de tanto trabalho, tantas décadas, uma ginasta do individual consegue ir para a final de uma Copa do Mundo e em quarto lugar. Isso significa que estamos trabalhando muito para isso. Estamos no caminho certo” (CBG, 2018).

Essa não foi a primeira vez que a dupla capixaba, Natália Gaudio e Monika Queiroz, fez história na modalidade. Nos Jogos Olímpicos de 2016, após um hiato de 24 anos, Natália Gaudio1 representou o Brasil nas provas individuais desse megaevento esportivo (GUERRA, 2017). Além da atuação da ginasta Natália Gaudio, é importante mencionar que, nas Olímpiadas Rio 2016, também integraram a Seleção Brasileira de Conjunto as capixabas Emanuelle Lima e Francielly Machado (A GAZETA, 2015; GAZETA ONLINE, 2016; BARBOSA, 2016). Seguindo essa tradição, a ginasta Déborah Medrado Barbosa, aos 15 anos de idade, demonstra ser o novo expoente da GR capixaba ao percorrer o mesmo caminho no Conjunto Brasileiro de Ginástica Rítmica, sendo convocada, no final do ano de 2017, para compor a equipe (CBG, 2019).

É perceptível que, no decorrer de “tantas décadas”, como mencionou Monika Queiroz (CBG, 2018), muitas atletas, treinadores, árbitros e gestores contribuíram com o desenvolvimento da GR brasileira e, consequentemente, com o atual sucesso desse esporte no Brasil.

Podemos inferir que o Estado do Espírito Santo possui um papel preeminente na história e no sucesso da GR brasileira que, no ano de 2019, completou 66 anos de inserção no país. A Confederação Brasileira de Ginástica (CBG, 1984), ao retratar a origem da modalidade no Brasil, destaca a participação da professora austríaca Margareth Frohlich no Curso de Aperfeiçoamento Técnico e Pedagógico, promovido pelo Estado de São Paulo, nos anos de 1953 e 1954. As aulas ministradas por ela podem ser consideradas a “célula mater” da modalidade no Brasil.

Destacamos que ainda nesse período, a professora Ilona Peuker, de origem húngara, radicou-se no país e teve um papel relevante na divulgação e na consolidação desse esporte nos anos seguintes (CBG, 1984; CRAUSE, 1985; ALONSO, 2000).

Porinfluência dos cursos ministrados pelas professoras europeias, a modalidade chegou ao Estado do Espírito Santo, mais especificamente na cidade de Cachoeiro de Itapemirim, no ambiente escolar. Entretanto, infelizmente, encontramos poucas informações na literatura que retratem como ocorreu essa inserção da modalidade no Espírito Santo e, igualmente, como o Estado se constituiu ao longo do tempo numa referência à formação de atletas de GR. Sendo assim, as histórias por trás do êxito da modalidade é o foco deste estudo. Ao longo do texto, apresentaremos desde os primórdios da modalidade até o atual momento do esporte no Espírito Santo por meio de temas que contextualizem os grandes influenciadores para a consolidação da GR em solo espírito-santense.

Assim, consideramos que esse resgaste histórico se faz importante para que os aspectos atrelados à trajetória da GR capixaba não se desvaneçam, além da valorização dos indivíduos responsáveis pela consolidação da modalidade, por todos os esforços dedicados para que a prática conseguisse prevalecer influente até a atualidade.

Dessa forma, compreendemos que é preciso resgatar essas memórias para alcançar os objetivos propostos no estudo, pois, como afirma Moreira (2005), a memória, no sentindo da expressão, é a presença do passado, é o resgate das realizações responsáveis pelo que se tem construído no hoje. Além disso, quando pensamos em memória, entendemos que toda reminiscência é coletiva, visto que uma memória nunca está atrelada apenas ao indivíduo de forma particular, mas sim em um envolvimento social, familiar, entre outros (MOREIRA, 2005). Nesse aspecto, é importante destacar que o objetivo do estudo foi trazer narrativas de histórias da GR no Estado do Espírito Santo e analisá-las, por meio dos relatos de seus protagonistas: professores, treinadores, ginastas, árbitros, dirigentes e equipe multidisciplinar, com o intuito de compreender como se deu a consolidação da GR no Estado. No intuito de compreender, analisar e discutir, por meio do percurso histórico da modalidade no Espírito Santo, os fatores que contribuíram com o seu desenvolvimento, e ampliar as informações sobre acontecimentos do passado, por meio das experiências vividas pelos indivíduos do estudo em busca de aprofundamento.

Por esse fator é que se faz importante buscar, por meio da metodologia da história oral, esses relatos no coletivo, o que foi construído ao longo do tempo na GR nas diferentes gerações, em tempos distintos, com apoios diversos que partiram de vários grupos. No estudo, foi proposto exatamente a escuta não apenas de um grupo, mas primado a diversidade, visto que, ao dialogar com diferentes colaboradores2 , conseguimos observar essa história com uma visão mais abrangente, pois se trata de experiências e contribuições que podem apresentar semelhanças em certos aspectos como também dissemelhanças em outros, dando ao estudo uma possibilidade enriquecedora de abordar temas relevantes, que serão apresentados ao longo dessa obra.

Ano de lançamento

2022

ISBN [e-book]

978-65-5869-841-8

Número de páginas

271

Formato

Autoria

Franciny dos Santos Dias