Mulheres velhas/envelhecidas em discurso: da invisibilidade no espaço do campo ruma à Marcha das Margaridas na cidade
Autoria: Wanderléia da Consolação Paiva
PREFÁCIO
O convite para prefaciar a obra “Mulheres velhas/envelhecidas em discurso: da invisibilidade no espaço do campo rumo à Marcha das Margaridas na cidade”, de Wanderléia da Consolação Paiva, me fez retornar ao livro Discurso, velhice e classes sociais, de Helson Flávio da Silva Sobrinho. É das reflexões de Silva Sobrinho que retiro a seguinte passagem: “As relações sociais constituem o modo como a velhice vai ser vivida, determinando seu estatuto e também seus sentidos. Antes de qualquer análise, é preciso levar em consideração que a velhice não é um fenômeno homogêneo, ao contrário, ela é heterogênea e contraditória.” (SILVA SOBRINHO, 2007, p. 83)i .
A velhice em sua heterogeneidade e em suas contradições, vivida de muitos modos e, sobretudo, discursivizada em diferentes condições de produção de que nos fala Silva Sobrinho (2007) são o norte das reflexões teórico-analíticas trazidas por Paiva, em seu livro.
Fruto da tese de doutorado da autora, a pesquisa apresentada nesta obra trata do discurso, compreendido por Michel Pêcheux ([1969] 1997ii ; [1975] 2014)iii como efeitos de sentidos que se dão para e por sujeitos, determinados ideologicamente. No caso dos discursos sobre as mulheres “velhas/envelhecidas”, no espaço do campo e em marcha na cidade; dizeres que produzem sentidos sobre mulheres, na intersecção de gênero com condições relacionadas à faixa etária e ao espaço geográfico por elas habitado/ocupado.
Wanderléia Paiva desenvolve sua pesquisa traçando seu próprio percurso: da Psicologia Social à Análise de Discurso; das questões de gênero às propostas de se pensar a interseccionalidade em seus efeitos no discurso; do espaço rural às ruas da cidade; dos discursos em seus múltiplos efeitos de sentidos para a velhice da mulher e das mulheres do/no campo; dos já-ditos sobre a mulher em suas diferente condições em revistas como Globo Rural e Agriculturas, às resistências na Marcha das Margaridas, manifestação de trabalhadoras rurais que ganha as ruas do espaço urbano brasileiro, desde o ano 2000.
Silva Sobrinho (2007, p. 83) já nos advertia que “os sentidos e a própria vivência da velhice não são estáticos, mas sim processos”. Processos são o que nos trazem a pesquisa de Paiva, que o leitor tem em mãos: um processo de constituição da pesquisadora na Análise de Discurso, possibilitado por sua inserção em um Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagem, no Âmbito de um Doutorado Interinstitucional (DINTER); um processo discursivo que diz das mulheres velhas/envelhecidas em suas especificidades, ao serem discursivizadas no campo e no espaço urbano das marchas. E, para mim, um processo de minha própria constituição como orientadora dessa pesquisa, que se volta à velhice, às mulheres, ao espaço campo/cidade, a tantas especificidades que também me interpelam como pesquisadora e como c.
Recomendo a leitura desta obra por seu empreendimento teórico e analítico, mas, também, por sua força ao dizer de mulheres em suas práticas e em seus gestos de resistência – diárias e/ou eventuais – que possibilitam (re)significações no discurso e nas demais práticas sócio-históricas, em nossa formação social.
Silmara Dela Silva
Professora Associada do Instituto de Letras da UFF
Dezembro de 2020
Ano de lançamento | 2020 |
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Autoria | Wanderléia da Consolação Paiva |
ISBN [e-book] | 978-58-5869-235-5 |
Número de páginas | 269 |
Formato |