Teatro e ensino: propostas de intervenção. Coleção caderno teatro e ensino. Volume II
Organização: Célia Arns de Miranda, Lourdes Kaminski Alves
PRÓLOGO
Escrever este prólogo é mais um privilégio da minha vida no GT de Dramaturgia e Teatro da ANPOLL, o qual eu tive a satisfação de fundar com a Profa. Dra. Lygia Rodrigues Vianna Peres, em 1999. Quando o grupo celebrou os 20 anos do GT, no Encontro Intermediário realizado na UFPR, em 2019, os tempos eram de abraços e trocas, longe das circunstâncias da pandemia, tempos em que a atual coordenação do GT deu prosseguimento ao segundo volume do Caderno Temático de Teatro e Ensino.
Apego-me ao “privilégio” e lembro-me da palavra num depoimento da poeta, dramaturga e professora jamaicana Claudia Rankine à jornalista Afua Hirsch, do periódico The Guardian, 1 enquanto conversavam sobre o racismo, o machismo e outras formas de violência geradas pelo privilégio branco nos Estados Unidos. Claudia Rankine reafirma que o privilégio econômico deve ser diferenciado do privilégio branco, “[…] Porque o que se obtém sendo branco é a habilidade de se movimentar livremente, e viver”. (“Because what you actually get with whitenessisthe ability to move freely, and to live.”)
Seja na terra distante ou no Brasil, professor@s e, sobretudo, professor@s branc@s, têm a oportunidade de desarticular o vírus do racismo e de outros tipos de violência se promoverem, em suas aulas e no repertório curricular, a circulação de nomes representativos de diversidade étnico-racial e a percepção de comportamentos que reproduzem vícios de opressão. O ano é 2020, mas os lugares, conforme a cor da pele, ainda precisam ser legitimados e resguardados. É o que faz este Caderno Temático ao impulsionar o livre movimento mencionado por Claudia Rankine, por meio dos textos dedicados às dramaturgas negras Grace Passô e Maria Shu. Por outro lado, os relatos de treinamentos, improvisações e concepções pedagógicas intervencionistas pós-críticas no cotidiano dos processos de criação revelam o quanto é possível desnaturalizar padrões culturais e instigar atores e públicos à percepção de si e/ou a um reaprendizado de si e de outres [sic].
Enquanto a relação entre arte e sociedade continua opressiva, lamentavelmente espelhando o sistema de Navalha na Carne, os capítulos deste volume sugerem que implementar estratégias para neutralizar as trevas tem sido um compromisso e uma urgência nos trabalhos de pesquisa, docência e produções artísticas, sempre ao encontro do iluminar e afetar, com afeto, as dinâmicas relacionais.
Margie Rauen
Professora Pesquisadora Sênior no
Programa de Pós-graduação em Educação da
Universidade Estadual do Centro Oeste – UNICENTRO
Ano de lançamento | 2020 |
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ISBN [e-book] | 978-65-5869-129-7 |
Número de páginas | 259 |
Organização | Célia Arns de Miranda, Lourdes Kaminski Alves |
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